segunda-feira, 25 de maio de 2009

Instrumento corporal, uma prática da terapia musical



O corpo humano é o instrumento mais completo em todas as suas dimensões. Além disso, é a origem dos instrumentos musicais, já que estes são simplesmente uma prolongação dele.
Entretanto, o corpo humano não cumpre com todas as exigências de um objeto intermediário (instrumento de comunicação capaz de atuar terapeuticamente sobre pacientes mediante a relação, sem desencadear estado de alarma intensos). Sabemos que o corpo pode despertar situações e ansiedades de alarma que podem fugir ou entrar em pânico a certos tipos de pacientes.
Porém, na aplicação em certas neuroses do tipo obsessivo, pode ser um meio direto de desbloqueio. A utilização no começo deve ser a distância, evitando contato corpo-a-corpo, mediante o palmeio, o sapateado, palmas sobre coxas, estimulando o eco rítmico, as perguntas e respostas instintivas.
Lentamente pode-se palmear sobre a palma do paciente, porém este contato rítmico se deve fazer com grande conhecimento da dinâmica do paciente.
De todos os fenomenos sonoros do corpo humano, o mais profundo é constituído da voz e o canto.
A voz e o canto são elementos mais regressivo e ressonantes, e por isso, devem ser usados com muito cuidado. Estão ligados ao ISO (identidade sonora do indivíduo) e são uma ampla tela de projeção dos complexos não verbais do paciente em sua evolução.
A criação instrumental. Estão nesta classificação os instrumentos criados, fabricados ou improvisados pelos pacientes.
Estes instrumentos tem grande poder de objeto intermediário e facilitante, pode-se converter em objeto integrador dentro de um grupo.
Dentro de uma instituição, o musicista pode favorecer enormemente a fabricação de tais instrumentos e coadjuvantes mutuamente à terapia e seus objetivos.
Não se pode falar de um ou outro instrumento, pois o uso dependerá fundamentalmente de cada paciente.
Neste tipo de tarefa exige-se um certo nível do paciente e um certo tempo de processo terapêutico, porém uma vez que se consegue o trabalho, com o instrumento criado, enriquece-se notavelmente a comunicação.

"Uma das experiências mais marcantes que tive dentro de uma unidade do CAPS, foi de um paciente ainda jovem, 19 anos.
Durante os ensaios do coral, ele ficava sempre num canto, usava um lenço para cobrir a boca. Convidei-o para fazer parte do grupo algumas vezes (sempre com a orientação da psicóloga que me acompanhava durante os ensaios), mas não aceitou.
Um dia antes do ensaio, perguntei a ele de qual banda musical ele mais gostava. Prontamente ele mencionou "Skank".
Não tive dúvidas. Quando voltei na semana seguinte, trouxe um cd da banda e coloquei a música "Vou Deixar"...a vida me levar, pra onde ela quiser, seguir a direção, de uma nuvem qualquer....
Distribui a letra para todos os integrantes. Notei a surpresa e a alegria no rosto dele. De início ficou curtindo, mexendo o corpo, os braços, acompanhando a partitura ( faço de conta que não estou olhando, deixo à vontade), mas quando dei por mim, aquele lenço estava no chão, e ele que dizia que não podia cantar porque tinha um "problema" na boca e que precisava ser operado, já não existia mais.
Nessas horas, a vontade de chorar de alegria é demais, (não só minha, mas da psicóloga também), mas temos que ser fortes e agir como se nada de novo tivesse acontecido.
Não demos atenção ao lenço que ele fazia questão de mostrar, que ele usava como desculpas, e o fazia para chamar a atenção da mãe, para que ela sofresse por ele.
Desse dia em diante, ele participou de todos os ensaios, a boca já não doía mais, então não precisava mais do lenço nem da suposta cirurgia.
Foi uma vitória, vê-lo nos palcos, cantando com os amigos.
Foi uma alegria, olhar a mãe na plateia aplaudindo seu filho, que cantava para ela.

Quando você está desenvolvendo um trabalho dentro de uma instituição, um CAPS, você obrigatoriamente deve fazer parte das reuniões, com terapeutas, psicólogos, psiquiatras, atendentes...para ficar a par dos progressos ou dificuldades que os pacientes apresentam no tratamento, conhecer os problemas e o diagnóstico de cada um, discutir juntos, qual a melhor maneira de ajudá-los e seguir sempre a orientação médica".

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