Todos me perguntam até hoje: Como foi o início da sua trajetória? Por que ensinar pessoas com deficiências, se com os alunos "normais" voce teria um retorno mais rápido, e menos trabalhoso?
Lecionava no Conservatório de Dança e Música Villa Lobos em Araraquara, quando fui procurada por um amigo pedindo que desse aulas para seu filho, pois ele adorava música e queria aprender a tocar teclado. Na época estava sobre-carregada de trabalho, lecionando também em minha residência, vários recitais marcados, viagens, além de problemas particulares para resolver. Pedi que levassem o menino ao conservatório e procurassem uma das professoras para atendê-lo. Levaram. Que decepção! Que vergonha!
"Mas é um excepcional! Sinto muito, mas crianças como seu filho servem apenas para bater lata. Dê a ele uma lata qualquer e um pauzinho, pois ele não tem condições de aprender nada."
Quando tomei conhecimento do fato, me senti envergonhada por existirem pessoas tão mesquinhas e preconceituosas.
Chorei e depois me revoltei com tanta insensibilidade.(...)
Resolvi fazer o teste com o garoto e que surpresa quando vi suas mãos sobre o teclado, na posição correta e seus dedinhos deslizando pelas teclas com classe e leveza, após uma única explicação. Em apenas uma aula, ele assimilou o dedilhado correto. Fiquei tão emocionada que chorei junto com o pai.
Decidi encarar o desafio: provar que é possível ensinar pessoas especiais, e integrá-las no mundo da música. Comecei o trabalho em minha residência. Por falta de material específico para o ensino desenvolvi um método pedagógico próprio. Baseada na Psicologia Experimental, disciplina fundamentada na experiência, de Gustavo Fechener e Wlheim Wundt, criei uma apostila com desenhos e notas musicais para serem coloridas, além de cartazes e xerox de partituras com tamanho ampliado e adaptados. Isso tudo com a ajuda de minha filha Ligia que na época tinha 14 anos de idade. Estudande de órgão e teclado possuía todas as habilidades que eu necessitava para o trabalho.
Meu primeiro aluno foi o Fernando , portador da Síndrome de Donw. Em seguida vieram outras, com deficiências visuais, auditivas, físicas, mentais em intensidades diferentes, e as síndromes raras, que até hoje são um desafio.
As notas foram ensinadas através de cartazes coloridos. Primeiro o dedilhado, com a mão direita, subindo e descendo as escalas, sempre cantando os nomes das notas. Depois os acordes, com a mão esquerda, usando sempre a voz para fixar as notas. Depois as duas mãos juntas. Tudo aliado a ritmos e compassos musicais. A maior dificuldade é a leitura das notas musicais em sequência, mas com paciência e dedicação eles conseguem.
Com a divulgação do meu trabalho fui procurada para lecionar em uma escola particular para pessoas especiais. Centro Educacional TOQUE. E foi lá que meu trabalho se desenvolveu de maneira incrível e acelerada.
Mas isto eu conto na próxima postagem!
Beijos musicais!!!
quinta-feira, 9 de outubro de 2008
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