Em 1995 fui convidada para lecionar música no Centro de Atendimento Educacional Toque de Araraquara. A escola atende pessoas com deficiência física, mental, auditiva e visual com idades de 10 a 43 anos, ressaltando que essas pessoas são atendidas desde que estes problemas estejam ligados ao fator mental. Aqueles que não ouvem e não enxergam, mas tem capacidade de desenvolvimento mental vão para escolas normais.
Outros atendimentos: alunos com dificuldade no aprendizado, ou seja, que frequentam a escola comum, mas não conseguem acompanhar o ritmo de aprendizagem dos outros alunos, necessitando de acompanhamento profissional especializado.
Os grupos ficam estabelecidos de acordo com o tipo de deficiência, idade cronológica e nível de desenvolvimento. A partir daí são formadas classes com crianças e adolescentes com Síndrome de Down, paralisia cerebral , atrasos neuropsicomotores de desenvolvimento e outros.
Áreas trabalhadas: Língua Portuguesa, Matemática, Estudos Sociais, Ciências e Saúde, Inglês, Atividades da Vida Diária e de Vida Prática, Educação Física, Computação com Software Educativo, Cozinha Experimental, Oficinas Pedagógicas, Esportes, Massagem, Yoga e Do-in, Nutrição, etc.
Corpo Docente : Possui Psicopedagogas e Pedagogas habilitadas em Educação Especial formadas pela UNESP que colocam em prática a filosofia educativa da abordagem ecológica em que é incentivado e promovido o intercâmbio entre indivíduo e comunidade, num processo de constante interação.
Mesmo com uma estrutura física excelente, faltava ela: MÚSICA!!!
Iniciei com uma reunião para os pais dos alunos, explicando a importância da música na vida de todas as pessoas e me compromentendo a fazer um trabalho dígno e responsável, integrando seus filhos no mundo mágico dos sons.
Primeiramente me inteirei de cada caso clínico. Então comecei a fazer testes com cada aluno individualmente, para saber das limitações físicas e mentais. Para cada grupo formado, criei um material específico, e com o tempo fui desenvolvendo outros. Por exemplo: Síndrome de Dow, alunos que tinham um desenvolvimento melhor de aprendizagem, as partituras eram normais, não necessitando o uso de cores para distinguir as notas; Deficientes Auditivos com deficiência mental leve, também usavam o mesmo material. Os demais aprendiam em partituras
e cartazes coloridos. Ressaltando que o melhor método aplicado é: Amor, Carinho, dedicação e Paciência!
Após seis meses de trabalho, fizemos nossa primeira apresentação em palco. As canções eram simples mas maravilhosamente interpretadas por todos os alunos, emocionando não só os pais, mas toda a platéia. Foi minha primeira e inesquecível vitória, ou melhor, minha e principalmente deles que mostraram capacidade!
A partir daí, não paramos mais. O grupo foi evoluindo a cada dia. E cada dia, eu aprendia mais com eles. Era uma troca maravilhosa.
Decidi então formar um coral. Como qualquer começo foi difícil. Nossa, meu Deus! Mas nos divertíamos muito com os erros e acertos. Era uma festa e ao mesmo tempo uma responsabilidade muito grande. O grupo foi ficando afinado. Então reparei nos outros alunos, que ficavam apenas assistindo e senti a alegria que eles transmitiam ao ouvir os colegas cantando. Tive uma idéia. Introduzi os alunos com Encefalopatia crônica não progressiva, mais conhecida como paralisia cerebral, com deficiência física leve a grave. Para os que não possuiam a fala como meio de comunicação, criei pranchas com símbolos ou fotos, focados nas músicas que estávamos ensaiando. Outros que possuíam comunicação restrita, indicando gestualmente apenas sim ou não, faziam a coreografia.
Nascia o Coral Toque! Participamos de inúmeros eventos! Um sucesso!
Depois disto, formei a banda rítmica!
Com o passar do tempo, convidei meu querido amigo Luys Rosário, para ensinar violão. Lembrei que ele ensinava um aluno com deficiência mental leve, e não tive dúvidas. Entraria o violão também. Gente, foi maravilhoso!!!
Bem, nessa altura, já éramos "famosos"!!!
Artes Plásticas, Dança, Exposição de Artes, o grupo foi se desenvolvendo ainda mais!!!
E o teatro? Porque não!!!
Cinderela Brasileira - é uma peça adaptada da história infantil "Cinderela". O tema foi sugerido pelos alunos da escola a partir das atividades de leitura e escrita desenvolvidas no processo de alfabetização. Com o tema definido, os alunos selecionaram os personagens que gostariam de representar. Cinderela por exemplo, pode ser interpretada como a pessoa que, para conquistar seu espaço e seus sonhos, precisa lutar e trabalhar muito, enfrentando as dificuldades da vida cotidiana.
Foi convidado para dirigir a peça o amigo Alvaro Alves Filho, diretor de teatro do Sesi de Araraquara. Para ele também foi um desafio, que deu certo.
A coreografia ficou por conta da amiga Magali Miranda.
A trilha sonora, inédita, criada por Luys Rosário.
A direção musical assinada por Maria Cristina Dantas. Eu mesma!
As diretoras da escola, Marcia Pizzone e Marilei Bolsoni Machado, criaram então o "Grupo Especial de Teatro Integrar, formado pelos alunos da escola.
A peça estreou dia 7 de dezembro de 1998, no teatro do Sesi de Araraquara.
Nasce então Grupo Integrar, e com ele, a saga da peça Cinderela a Brasileira, que mostrarei na próxima postagem.
Em 1999, fomos convidados a apresentar a peça no programa Cantinho Excepcionalmente lindo, na Rede Globo. O convite foi feito pela própria Xuxa. Imaginem só a loucura que foi!!!
A cada ano uma nova peça é encenada, e com trilha sonora inédita, composta por Luys Rosário.
Detalhes: a Escola Toque, passou a denominar-se: Centro Educacional e Cultural Toque, até o final de 2007. Hoje, Fundação Toque.
Sinto orgulho por todos os alunos e professores, plantei uma sementinha, que germinou e foi crescendo e se desenvolvendo. Acreditei, lutei, confiei na capacidade deles e me doei de corpo e alma, para o sucesso dessas pessoinhas que até hoje, são especiais para mim.